domingo, 26 de dezembro de 2010

Uma Verdade Inconveniente V

Uma Verdade Inconveninente V - O Tiro Certeiro
______________________________________________________________________

Decorria o ano de 1980. Todos os nascidos em 59 deixavam as suas famílias, a lavoura, a terra que os viu crescer. Entre eles Manel Guixo, que se encaminhava para Argontim onde se encontraria com o amigo que lhe ia indicar o caminho pela primeira vez até à Zona Oeste, onde iria cumprir o serviço militar.

Manel Guixo nos dias correntes, sentado na esplanada
da tasca onde outrora o foram buscar para ir ao proprio
casamento.
Manel saía de casa feliz, com o ânimo de deixar S. Bartolomeu do Rêgo, deixando a passos largos o lugar de Alijó para trás.
- Vai Manel, passa-te a andar! – disse-lhe o Costinha enquanto o via passar.
- Ó Manel, vais pá tropa? Vai que não fazes cá falta… - dizia o Sr. Batista Ferreira ao vê-lo abandonar o lugar.
Chegando ao ponto de encontro, antes de se encaminharem para a Lameira apanhar a carreira, Batista Serralheiro, que regressava nesse dia para o quartel de Trafaria, vê o companheiro de viagem chegar com uma bagagem estranha: para além da roupa que levava no corpo, Manel Guixo levava debaixo do braço dois volumes de tabaco!
- Então só levas isso? – pergunta o Batista espantado.
- Que é que é preciso levar mais?


Apanhado o comboio em Fafe, e depois de voltar a casa buscar alguma roupa, Manel seguia pensativo na morosa viagem. Na Trofa, onde trocariam de comboio para o Porto, Manel Guixo num ímpeto de saudade, foge. Atravessa as linhas a correr, enquanto Batista lhe faz uma radical perseguição entre carruagens e linhas. Toda a gente se riu da triste figura dos dois rapazes, até que o perseguidor apanha o perseguido:
- Sabes Batista, as palavras de despedida do Costinha e do Sr. Batista encheram-me o coração e eu fiquei com saudades, eu quero voltar!
Contudo o destino de Manel Guixo estava traçado, e os seus feitos heróicos no quartel ainda estavam por vir! Manel podia fugir ao Batista, mas não ao seu destino, e por isso continuou viagem a partir do Porto com um novo colega que o Batista lhe arranjara para não o aturar mais.

O destino tardou a aparecer, mas Manel sempre esperou pelo momento de brilhar na carreira militar. Uma certa noite, enquanto Manel fazia a vigia, de farda e G3 na mão, o seu momento finalmente chegou. Entre a penumbra da noite algo se aproximava do seu posto:
- Quem vem lá faz alta! – berra Manel esperando obter a contra-senha. O silencio manteve-se e ninguém respondeu. O vulto continuava o seu caminho na sua direcção.
- Quem vem lá faz alta! – berra ainda mais alto, enquanto apontava a arma ao vulto que cada vez se achegava mais. A misteriosa pessoa não retorquiu uma única palavra da senha. O nervosismo era cada vez maior. Manel não largava o gatilho! O semblante não dizia a senha para prosseguir caminho!
O cagufo apertava, os seu dentes batiam como castanholas, as pernas estavam mais bambas que elásticos. Manel apertou o gatilho e na escuridão da noite o ser caiu ermo, ouvindo-se a misteriosa criatura tentando dizer finalmente algo:
- Muuuuuuuuuu – mugiu a pobre vaca, cada vez mais fraca, enquanto vivia os seus últimos segundos…

1 comentário:

António Lopes disse...

Essa coisa de matar a vaca sem pedir autorização ao chefe, é como "pegar" uma gaja numa favela no brasil sem pedir autorização ao dono do morro...para a próxima o Sr.Guixo tem de pedir autorização do dono da rua Mata-Vacas: clica AQUI!!!